domingo, 20 de dezembro de 2009

COP15 - O final tão temido

E A MONTANHA PARIU UM RATO
Os piores temores realizaram-se.
Não só o necessário acordo não foi realizado, como o inacreditávelmente insuficiente acordo alcançado não é sequer vinculativo, isto é, cada país cumpre, se assim o desejar, e como o desejar.
Os grandes líderes do Mundo falharam-nos imensamente. Torna-se óbvio que os nossos interesses como povos do Mundo não são os mesmos que os deles.
Taís líderes não são de confiança.
Tudo está agora nas mãos dos cidadãos, e dos enigmáticos processos do clima, que não se interessa nada pelas leis do mercado livre, nem pela crise económica Mundial.
Nossos filhos e netos por nascer gritam de revolta contra a nossa cumplicidade muda.
O preço a pagar é demasiado alto para nos declararmos impotentes perante a insensível máquina industrial e financeira que criámos.
Secas, imundações, supertempestades, fome e massas de milhões e milhões de refugiados serão a nossa herança.
A história irá julgar-nos, com a mesma misericórdia que nós demonstramos às nossas gerações futuras.
É bastante negra, a época em que vivemos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

À espera de Copenhaga 09...



O mundo sustém a respiração enquanto os grandes decidem o futuro das gerações actuais e vindouras, partindo de premissas demasiado economicistas e centradas nos seus umbigos patrióticos, o que não deixa ninguém dormir descansado.

Ninguém esperava um acordo fácil, mas quando vemos Durão Barroso desiludido com o que se conseguiu até agora em Copenhaga, sente-se um frio muito real na espinha.

Falta muito pouco para o final da Cimeira. Após 2 anos de negociação, tudo está ainda para decidir.

Mas talvez nem tudo esteja perdido. Vários foram os responsáveis políticos que admitiram a necessidade de uma reflorestação a sério, e a nível global, como forma de reter o carbono na biosfera, e aumentar os recursos naturais de muitas nações em desenvolvimento.

Mas desenganem-se os companheiros portugueses, que uma floresta não é um qualquer amontoado de pinheiros ou eucaliptos.
É sim uma grande extensão de terreno densamente povoada por árvores, mas que sustém igualmente uma grande variedade de outras plantas, bem como uma boa quantidade de espécies animais, como toupeiras, pardais e coelhos.

Em Portugal, para além das reservas naturais, apenas temos o Montado Alentejano como um ecossistema capaz de manter uma tal variedade de espécies.
Pelo que resta muito trabalho a fazer no nosso país.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Os filhos de Abril são mais que mil, e gritam ao cair.

Queda e ascensão de mais um precário inflexível

Pois bem, comigo não foi diferente. Como tantos outros não pude deixar de lutar contra uma vida que insiste em contrariar todas as nossas expectativas, todos os nossos sonhos e anseios, mesmo se os mesmos se resumem a algo tão simples como uma casa à qual podemos chamar nossa, um emprego e algum dinheiro no bolso para gerir com saber e querer. Também eu sou professor, de ciências, e quando conto a quem comigo trabalha existirem por terras de Portugal dezenas de milhar de professores no desemprego, ninguém me acredita. Não quero com isto dizer ser a Inglaterra uma qualquer terra prometida, porque não só não o é como, caso esta aposta não resulte, tenho toda a certeza de amanhã ser mais um dia onde duas pernas e dois braços persistirão em animar o meu corpo e esta vontade. Importante é acreditar. Também eu vivi o desemprego e ainda hoje carrego comigo esse sentimento de culpa de quem acha ser nossa a responsabilidade de um dia encarar tal situação. Mas não é, a culpa não é nossa, e num repente somos mais um desses casos que dão razão à psicologia. Porque crescemos condicionados à função de produzir.

Estive um ano sem ser colocado e cedo percebi não haver lugar para mim no universo tão pequeno que é Portugal, um País de cunhas, cunhados e conhecidos onde não se valoriza o mérito pessoal e onde a oportunidade é para quem já a tem, e não para quem a queria. Mas emigrar foi sempre a última opção. Não há alegria em deixar para trás toda uma família e os amigos que se criaram durante uma vida. E por tal, e tentando fugir ao óbvio, decidi enveredar por outro curso e outra área: a área da enfermagem. Afinal, ainda vivemos num país onde a opinião geral é de que "o importante é ter saúdinha". E conquanto haja saúdinha para tratar, esperava eu, como enfermeiro, não ter de emigrar. O resultado prático foi ter de desistir do curso ao fim de dois anos e meio, porque a exigência do mesmo reprova por um ano quem chumba a uma só disciplina de estágio, e a vida não nos dá espaço para andar por aqui a perder anos de vida, não quando já me crescem os cabelos brancos, e não numa sociedade ansiosa por drenar a juventude que nos vive nos braços. Desisti de enfermagem numa sexta-feira e comecei a preparar a partida no sábado, uma partida que levaria ainda um ano e meio a concretizar. Na quarta-feira seguinte estava a trabalhar no buraco dos licenciados e dos desgraçados: um call-centre da TV Cabo. A experiência sui generis de se ser insultado ao telefone oito horas por dia só não deitou por terra toda a pouca auto-estima que ainda me sobrava porque pelo meio fiz a viagem tão prometida à minha namorada (fomos à Suécia) e nunca, mas mesmo nunca, deixei de procurar um emprego. Graças à internet (na Internet we trust) coleccionei listas formidáveis de contactos electrónicos de escolas públicas, escolas particulares, centros de formação, jornais e revistas, estágios profissionalizantes e estágios não remunerados, até finalmente, oito meses volvidos num rolo de carne em sangue, poder saltar de um buraco na direcção de outro: os centros de estudo. Se por um lado fugi ao insulto, por outro a exploração mercantil a que somos sujeitos é, em definitivo, um insulto em si. Mesmo tendo em conta o facto de ter feito algum dinheiro e agora, olhando para Portugal, saber haver professores a receber cento e cinquenta euros a troco de meio horário de trabalho (o qual é, por norma, pago a quadriplicar). Como não podia deixar de ser, continuei à procura de emprego. pelo caminho soube haver por terras de Inglaterra uma grande falta de professores de ciências. Meu dito, meus amigos, meu feito. Estabeleci os contactos e tratei das qualificações. Estávamos no início de 2007, mês de Janeiro, e ao fim da terceira semana de Fevereiro já tinha o especial certificado na caixa do correio. Estava tudo preparado para partir para Inglaterra! No entanto, faltava o mais difícil: partir. Essa fase, que foi a última, ainda me levou sete meses, só tendo aqui chegado corria o ano no mês de Setembro. Para trás deixei toda as lágrimas em pequenos saquinhos debaixo das asas do avião, e comigo trouxe a certeza cega de nunca mais voltar a um país que, lentamente, nos atira para longe de todos a quantos queremos. Porque não há alternativas. Ou isso, ou o a resignação de uma vida parva e pequena, mesquinha, onde "o que importa é que haja saúdinha...", dia após dia, até nada mais haver senão uma mão de terra onde o licenciado acaba por se conhecer a plantar uma batata e uma couvinha porque a auto-subsistência é o futuro cada vez mais presente. Ao fim de três semanas estava a trabalhar, e hoje estou numa escola de ensino especial em West Ham, Londres, onde me pagam e onde recebo, onde trabalho e onde aprendo. Pago as minhas contas e não sou mais um filho de Portugal à procura de contrariar esse epíteto de "geração rasca", mesmo sendo eu, à data, um dos melhores alunos da escola. Não, isso não conta. O que conta é a batalha geracional, e essa também não escolhe prisioneiros.

Os filhos de Abril são mais que mil, e gritam ao cair.

Daqui por uma semana estarei a viver com a minha namorada por terras de Londres, à procura de cumprir a promessa de não mais nos separarmos. O que acontecer daqui em diante é a vida, a mesma que nos é negada porque vedada, em terras de Portugal. As saudades são muitas, mas nada há que me espere no regresso a casa senão um princípio de fome. Poucos amigos ainda fiz e a maior parte do meu tempo tem sido dedicada ao trabalho, mas aos poucos, creio, uma vida hei-de construir e o futuro está ali à porta, à espera do meu consentir, para que eu o deixe entrar dentro da sala-de-aula, de mala às costas em direcção à carteira da frente, onde se senta e onde abre o livro para mais um dia de aulas.
João André Costa

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

"Antes da Dívida Temos Direitos"


Testemunho: os falsos recibos verdes e o peso da dívida injusta à Segurança Social
A petição "
Antes da Dívida Temos Direitos" continua a sua mobilização pelos direitos dos trabalhadores a recibos verdes e na defesa da Segurança Social para todos. Além do crescente número de assinaturas e do entusiasmo que sentimos todos os dias no contacto com muitas pessoas na rua, através desta iniciativa tem sido possível conhecer ainda mais histórias da injustiça desta dívida e do peso que significa viver amarrado aos falsos recibos verdes. Partilhamos aqui um testemunho que nos chegou através da petição, tristemente esclarecedor, até pela dificuldade em conhecer as regras e as burocracias que enovelam esta injustiça:


«Sou licenciada em Cardiopneumologia. Desde de Julho de 2005 que trabalho ou seja trabalhava na empresa "Clínica UNIMED" que foi à falência. Nessa Clínica Unimed Entrecampos como referi trabalhei desde Julho de 2005 e falsos Recibos Verdes uma vez que trabalhei sempre lá, fazendo exames médicos, sempre com o mesmo horário e neste período de tempo com o mesmo salário.
Agora a que a clínica foi à falência eu e os meus colegas com recibo verde, ficamos sem nada...nem indemnização, nem subsidio de desemprego.... Também tenho uma divida à segurança social, uma vez que não consigo com as despesas e com aquilo que ganhava não dava para pagar...


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O Chorão e a Cimeira de Copenhaga



Foi com enorme tristeza que descobri funcionários da Câmara de Vila Real no bairro da Araucária, a carregar um gigantesco Chorão, acabado de arrancar... A árvore possuía um corpo e uma dignidade difíceis de explicar, mas para estes funcionários, era apenas mais um dia de trabalho.
As razões: possivelmente as raízes perturbaram a canalização do bairro, ou pior, o pavimento. O que, para o homem actual, é mais do que suficiente.

O que me levou a pensar na Cimeira de Copenhaga.
Que hipóteses temos nós de reverter as alterações climáticas com as decisões desta Cimeira?
As mesmas que o Chorão, possivelmente.